segunda-feira, 12 de abril de 2010

CRASE

A palavra crase origina-se do grego krasis, através do latim crasis, com o sentido de mistura. Consiste a crase na fusão de duas vogais idênticas. No caso da fusão da preposição a com o artigo definido a(s) ou com o pronome demonstrativo a(s) a crase é indicada por um acento grave (à). Emprega-se igualmente o acento grave quando o pronome demonstrativo a(s) pode ser substituído por aquela.

Para decidir se há ou não crase em determinadas locuções devemos ter em mente, em primeiro lugar, as duas seguintes regras fundamentais:

1. A crase da preposição a com o artigo definido a(s) só ocorre diante de palavras femininas, visto que o artigo definido das palavras masculinas é o(s) e não a(s).
Constitui erro primário, portanto, usar acento grave na preposição a de locuções como a contento, a gosto, a esmo, a exemplo, a fogo, a frio, a fundo, a juízo de, a lápis, a modo de, a pé, a prazo.
A única exceção consiste nas locuções em que está implícita e oculta uma palavra feminina, como moda, maneira. Ex.: gastrectomia à Billroth I.

2. Sempre que houver dúvida devemos mentalmente substituir a palavra feminina por outra masculina; se a partícula a se alterar em ao, usa-se o acento grave indicativo de crase; se não se alterar, trata-se da preposição a, que deve permanecer sem acento; se for substituída por o(s) trata-se de artigo definido, que também não comporta acento.

Outras normas que poderão nos orientar e que devemos observar:

3. Há palavras que não admitem a anteposição do artigo, tais como verbo, advérbio, artigo indefinido (um, uma), pronome pessoal (ela, nós, vós), pronome demonstrativo (esta, essa), pronome relativo (quem, cuja), pronome indefinido (cada, alguma, alguém, toda, qualquer, ambas). Nestes casos, é óbvio que não há crase.

4. Diante de possessivos femininos usados em função adjetiva (minha, tua, sua, nossa vossa), o acento é facultativo.

5. Em locuções prepositivas (à custa de, à espera de,) e locuções conjuntivas (à proporção que, à medida que) precedendo nomes femininos, usa-se o acento.

6. Em locuções adverbiais diante de nomes femininos (à vontade, às vezes, à vista, à distância) usa-se igualmente o acento.

7. Usa-se acento diante de palavras femininas após os verbos regidos pela preposição a (assistir a, responder a)

8. No caso do pronome relativo qual, usa-se o acento sempre que o antecedente for do gênero feminino. Quando o pronome é interrogativo, no entanto, não há crase.

9. Usa-se acento antes de adjuntos adverbiais de tempo e diante da palavra horas (à tarde, à noite, às 10 horas).

10. Constitui erro a indicação de crase com o artigo no singular diante de um nome no plural.

Há outras particularidades de menor interesse para a linguagem médica que se encontram nas gramáticas e publicações especializadas.
Vistas estas noções básicas, podemos listar algumas das locuções mais utilizadas e que, por vezes, geram dúvidas: [3]

A. Com acento indicativo de crase.

Exemplos:

à direita às claras
à esquerda às expensas
à escolha às margens de
à evidência às ordens
à espera às vezes
à falta chegar à conclusão
à feição dar à luz
à força estar à altura
à frente estar à espera
à maneira estar à disposição
à medida estar à vista
à disposição estar à vontade
à primeira vista exceção à regra
à proporção faltar às aulas
à raiz de frente à
à revelia igual à que
à risca passar à frente
à saída saltar à vista
à semelhança à vontade
à vista uma à outra

B. Sem crase

Nos seguintes exemplos não há crase e usa-se apenas a preposição a.

a bem de a instância
a curta distância a jusante
a pouca distância a montante
a meia distância de ponta a ponta
a grande distância de segunda a sexta
a duas mãos folha a folha
a duras penas frente a

C. Crase facultativa

Em muitas locuções a crase é facultativa, podendo-se usar apenas a preposição. Exemplos:

comparecer a/à reunião face a/à
com respeito a/à favorável a/à
contíguo a/à junto a/à
contrário a/à graças a/à
de encontro a/à no tocante a/à
dar vazão a/à próximo a/à
dirigir-se a/à rumo a/à
em frente a/à semelhante a/à


Referências bibliográficas:

1. CUNHA, A. G. – Dicionário etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira S.A., 1986.
2. ANDRADE, A.L. – A crase. Rio de Janeiro, Organização Simões Ed., 1958.
3. LUFT, C.P. – Novo manual de português. São Paulo, Ed. Globo, 1995.
4.http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/crase.htm

Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..

Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: jmrezende@cultura.com.br
http:www.jmrezende.com.br
10/9/2004.

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